A Física Paraense está de parabéns por dois de seus membros (hoje, doutores em Física) terem participado de dois eventos importantes para o desenvolvimento da Física Mundial: um experimental e outro teórico. O experimental se deve ao físico paraense José Guilherme Rocha de Lima (n.1967), participante da Colaboração Internacional D0, no acelerador Tevatron do FERMILAB (Fermi National Accelerator Laboratory) que descobriu o quark top, em 1995 (Physical Review Letters 74, p. 2626; 2632). José Guilherme, como o chamamos, é bacharel em Física pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e hoje pertence ao corpo de cientistas do FERMILAB, localizado em Batavia, Illinois, USA.
Vejamos a razão desse feito notável e de suas consequências. Em 1964, os físicos norte-americanos Murray Gell-Mann (n.1929; PNF, 1969) (Physics Letters 8, p. 214) e George Zweig (n.1947) (de origem russa) (CERN Preprint 8182/Th 401; 8419/Th 412) propuseram um modelo para representar as partículas elementares, as quais deveriam ser constituídas por novas partículas, denominadas de quarks (Gell-Mann) e de aces (Zweig). Segundo esse modelo, o hoje famoso Modelo de Quarks, os hádrons (partículas sensíveis à força forte) seriam formados por combinações de quarks de carga (Q) [e de seus correspondentes antiquarks de carga (- Q)]. Nesse Modelo, foram previstos apenas três “sabores” de quarks: up (u; Q = +2e/3), down (d; Q=-e/3) e strange (s; Q=-e/3), que seriam suficientes para formar todos os hádrons então conhecidos. Além disso, somente seriam válidas as combinações de carga elétrica total que fossem múltiplos inteiros da carga (e) do elétron, e assim os hádrons foram classificados entre bárions (e antibárions) ou mésons, sendo os bárions formados por qualquer combinação de três quarks, como, por exemplo: próton [p(uud)], nêutron [n(udd)], xi-menos [Ξ–(dss)] e ômega-menos [Ω–(sss)], enquanto os mésons sendo formados por combinações quark-antiquark como, por exemplo: píons: , , .
Mais tarde, foram previstos mais três “sabores” de quarks: charme (c), em 1964, bottom/bonito (b), em 1974 e top (t), em 1974, e descobertos, respectivamente, em 1974, 1977 e 1995. É ainda interessante registrar que nosso José Guilherme (a quem agradeço nesta oportunidade a leitura crítica deste verbete) também participou da descoberta do xi estranho bonito-menos [ (dsb)], em 2007 (Physical Review Letters 99, article number (a.n.) 052001/ FERMILAB/D0) e do ômega duplo estranho bonito-menos [ (ssb)], em 2008 (Physical Review Letters 101, a.n. 232002, FERMILAB/D0) (www.searadaciencia.ufc.br/bassalo).
O evento teórico, também notável, se deve ao físico paraense Antônio Boulhosa Nassar (n.1953) ao encontrar, em janeiro de 2013 (Annals of Physics 331, p. 317), a solução do problema proposto pelo físico irlandês John Stewart Bell (1928-1990) [Speakable and Unspeakable Quantum Mechanics (Cambridge University Press, 1987)] relacionado ao tempo que separa os regimes: clássico e quântico, em um problema de medida contínua. Nesse trabalho, no qual usou o formalismo da Mecânica Quântica de de Broglie-Bohm (MQB-B) (que permite calcular trajetórias quânticas), ele mostrou que uma medida contínua altera as propriedades dinâmicas do sistema que está sendo medido. Assim, enquanto a largura de um pacote de onda pode atingir um regime estacionário, suas trajetórias quânticas convergem assintoticamente no tempo para trajetórias clássicas. Portanto, medidas contínuas não somente perturbam a partícula bem como a obrigam a convergir eventualmente a um regime clássico (newtoniano). Essa taxa de convergência depende do que ele denominou de Constante Quântica de Bohm (τB) e que caracteriza o tempo de resolução da medida. Se a largura inicial do pacote de onda for da ordem do tamanho de um elétron (2,8 10-15 m), então teremos τB ≈ 6,8 10-26 s. Agora, em 11 de outubro de 2013 (Physical Review Letters 111, a.n. 150401), em artigo publicado em parceria com o físico espanhol Salvador Miret-Artés (n.1957), foi confirmado esse tempo e sugerido o tipo de experiência a ser realizada para determiná-lo. Toninho, como o chamamos, é graduado em Engenharia Elétrica pela UFPA, ensinou e orientou Teses de Mestrado (usando o formalismo indicado acima) no então Departamento de Física da UFPA e, atualmente, ensina na Harward Westlake School e na University of California, na Califórnia, USA.
É oportuno destacar que Nassar (a quem agradeço nesta oportunidade a leitura crítica deste verbete), com a colaboração dos físicos paraenses José Maria Filardo Bassalo (n.1935) e Paulo de Tarso Santos Alencar (1940-2011), e do físico paulista Mauro Sérgio Dorsa Cattani (n.1942) usou a MQB-B em vários trabalhos envolvendo Equações de Schrödinger Lineares e Não-Lineares e que foram reunidos no livro intitulado Tópicos da Mecânica Quântica de de Broglie-Bohm (EdUFPA, 2003; e-book. 2010. http://publica-sbi.if.usp.br/PDFs/pd1655.pdf. Por fim, em 2012 (Journal of Advanced Mathematics and Applications 1, p. 89), Nassar, Bassalo, Cattani e o físico paraense Daniel Gemaque da Silva (n.1977) publicaram um artigo (In Memoriam: Paulo de Tarso Santos Alencar), no qual calcularam os Propagadores de Feynman de oito Equações de Schrödinger Não-Lineares, sendo que alguns deles já haviam sido pré-publicados no arXiv com a participação do inesquecível amigo Paulo de Tarso.